sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

 Eu ainda me lembro...

 

Não sou escritor e acho que isso não se diz. Não que alguém não possa estudar para ser escritor, porém se você não tem formação nas letras em alguma área, são as outras pessoas quem devem falar, depois de ler o que você escreve, se é ou não literatura. E isso sempre me impediu de escrever. Mas eu acredito que mesmo não desejando ser um best seller, nem mesmo tendo intensão de publicar, todas as pessoas que tivessem vontade deveriam ter condições de escrever sua própria história ou suas próprias estórias. É um clichê, que seja. É um problema da classe média, talvez. O fato de estar hoje situado entre pessoas com uma renda média, eu não tenho certeza se ainda existe classe média, minha origem é da classe baixa, das famílias que não ganhavam nem mesmo um salário mínimo. A memória das coisas sempre me incomodou. Eu sempre tive muita facilidade para lembrar das coisas ruins da minha vida e isso me incomodou por muito tempo. Li em algum lugar que existem pessoas que são pessimistas mnêmicos, capazes de lembrar com mais clareza apenas os momentos difíceis. Eu me considerava assim e mesmo mantendo um blog desde os anos 2000 eu não achava que era possível escrever com clareza. Talvez eu não consiga. Eu só estou começando. Os começos são sempre difíceis. Vou expressar aqui as minhas lembranças e talvez até imprima para deixar depois da minha morte. Ou talvez não consiga mostrar a ninguém. Ainda não decidi. Para fazer um bom texto é preciso mais do que o desejo de escrever: conhecimento de literatura e da gramatica como base, criatividade e sinceridade podem contribuir também. De fato, para quem não tem pretensão nenhuma de publicar ou vender, posto que o assunto divulgado é apenas o cotidiano de um homem pardo, pobre e que melhorou a ponto de comprar um computador compacto. Não tem nada de novo, nada que nenhum outro Machado de Assis tivesse interesse em escrever. Não há nada de inédito. Não é uma comédia de costumes. Não é teatro. Não é um enredo de filme. Não tem uma grande distinção de personagens. Era só para contar uma história. Minha história. É um experimento. Uma descoberta. Para quem sempre gostou de escrever, mas que não tem formação em letras é um desafio. Vou tentar escrever as minhas memorias antes que eu a esqueça. Vou escrever como um exercício, uma tarefa que costumava faze depois de uma viajem. Por um tempo eu sintetizei os momentos que passei nas viagens de motocicleta pelo Nordeste, de onde aliás nunca sai. Era um exercício de memorização e uma maneira de deixar o meu blog funcionando. E por algum tempo eu consegui.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

 

São Lourenço da Mata, 08 de fevereiro de 2021.

Sobre a auto estima, o amor próprio e outras observações

Caros amigos incidentais, companheiros de jornada, amigos de todos os lugares, gente diversa e versada em discutir sobre como desfrutar da vida, das viagens, dos relacionamentos em grupo, e de nós que driblamos os problemas da vida pilotando e fazendo parte da paisagem, bem vindos à vida.

Sempre que me perguntam: o que é viver? Eu respondo: viver é fazer boas escolhas. E tem até um meme onde o aluno pergunta ao sábio:

Aluno: - mestre, como faço para me tornar sábio?

Mestre: - boas escolhas.

Aluno: - mas como fazer boas escolhas?

Mestre: - experiência.

Aluno: - E como adquirir experiência?

Mestre: - más escolhas.

Eu defendo que devemos aprender com os nossos erros, mas se você puder observar ao seu redor as pessoas batendo a cabeça, insistindo em objetivos impossíveis, em busca de uma felicidade eterna, achando que like é afeto e usar isso com lição para não precisar levar aquele puxão de orelha da vida, poderemos sim escolher melhor. O que atrapalha é essa ideia do ser humano de acreditar que sempre sabe o que está fazendo e onde está indo.

As escolhas que fazemos dependem de muitas outras coisas, muito da observação do mundo, mas também dos nossos desejos e de como enxergamos o nosso papel na sociedade, só para começar. Depende do nosso conhecimento, pois como ensinava meu professor de Sociologia “quem não tem conhecimento não tem perspectiva”, quando se referia a si mesmo em sua infância. Então, podemos dizer que as nossas escolhas pessoais também dependem dos nossos horizontes, do que conhecemos do mundo, do que ainda almejamos conhecer, sentir e ver.

Se você deseja se aposentar e morar na praia, conhecer o Louvre e o Taj Mahal, ou ir de motocicleta até a Patagônia, essas ações podem ser planejadas e realizadas de várias maneiras por pessoas diferentes e até pela mesma pessoa. Mas na maioria dos casos o ideal é trabalhar por um único objetivo ou, ao menos, um objetivo de cada vez. O que não determina nem impede sonhos múltiplos.

Entretanto, no meio de todos os critérios de escolha que temos durante a vida, acredito que um fator é determinante: a autoestima. Quem tem autoestima baixa pode ser atrapalhar na hora de diferenciar com clareza uma oportunidade de um favor. Pior: a pessoa pode achar que não merece aquela oportunidade ou que não poderá responder as expectativas criadas para si.

Isso supondo que a pessoa comum tem baixa autoestima, mas possui um senso crítico razoável. Autocritica é mais fácil de encontrar e mais intensa que autoconhecimento. Acredito que o rumo que a humanidade tomou contribuiu mais para a autocritica que para o autoconhecimento e isso é triste. As vezes acho que o ser humano caminha para um colapso de sentimentos onde ninguém mais vai se entender. Cada dia temos menos tempo para confraternizar, e em meio a polarização política vigente conheço pessoas adultas que deixaram de falar com as próprias mães.

A autoestima é imprescindível para a vida adulta e para quem quer seguir seus projetos num país como o Brasil com tanto estigma e preconceito se torna ainda mais importante. Digo isso por experiência própria: a vida me foi bem madrasta, parafraseando Lenine em uma entrevista antiga onde ele falava sobre o início de sua carreira ele diz “a vida sempre me sorriu amarelo”.

Mesmo para um ser humano consciente de suas capacidades o mundo é sempre bem intimidador, as situações sempre se mostram cada vez mais complexas. Até a década de 70 você conseguiria um emprego poderia ficar nele até se aposentar: hoje em dia é difícil passar dez anos em uma mesma empresa e a expectativa de se aposentar antes de morrer de alguma doença da idade avançada fica cada dia mais distante.

Mas a baixa autoestima te impede de melhorar, de progredir por que você acha que não pode ou que não merece, ou quem sabe alguém muito importante para você lhe disse que você não poderia e você acreditou, fica bem difícil. Por que o mundo não esperar sua autoestima melhorar para que você siga tentando. Eu tive a sorte de encontrar muita gente bacana na vida, que me deu a mão e força para continuar. Eu fui imensamente ajudado na vida. Sempre encontrei mais seres iluminados do que ignóbeis e sem empatia, mais mãos estendidas que batedores de carteira.

E tem mais: o grande alicerce da autoestima é o amor próprio. A forma e o respeito com o qual você se trata tem a ver com tudo o que aconteceu em sua infância e vai refletir na sua vida de adulto. Interfere no amor próprio e este fundamental. Não é à toa que uma das bases do cristianismo é “amar ao próximo como a ti mesmo”. Não há como você exercitar o amor nem pelo seu smartfone se você não se ama antes. Você tem que se amar para respeitar o seu dinheiro e comprar objetos que possa pagar sem maiores percalços, por exemplo, vai ter smartfone, mas não vai ter internet para usá-lo e isso é trabalhar com os limites de suas possibilidades financeiras e tem tudo a ver com amor próprio. O quanto você valoriza o dinheiro que você ganha e como você se organiza para pagar o que compra está diretamente ligado a autoestima e ao amor próprio.

E isso é uma daquelas estruturas que deveriam ser ensinadas na escola, mas não acontece e quando conseguimos aprender por osmose ou de tanto errar o tempo já passou muito. Tem gente que chega no fim da estrada e não consegue descobrir tanto sobre si mesmo.

 Joel Gomes – Bacharel em Ciências Sociais, acadêmico da Geografia, Pernambucano, Moto-turista, escrevendo para se livrar das suas próprias dores (jotagomes@gmail.com).

 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

 

São Lourenço da Mata, 08 de dezembro de 2020.

Angustia e outros sintomas de ser humano

Caros amigos incidentais, companheiros de jornada, amigos de todos os lugares, gente diversa e versada em discutir sobre como desfrutar da vida, das viagens, dos relacionamentos em grupo, e de nós que driblamos os problemas da vida pilotando e fazendo parte da paisagem, bem vindos à vida.

Nunca a frase “bem-vindos à vida” fez tanto sentido. Nos meus[1] quarenta e seis anos de vida eu jamais imaginei que o mundo pudesse viver uma pandemia de um vírus mortal, e que todo o lado sinistro de cidadãos no poder fosse se revelar nos seus mínimos detalhes. E essas duas coisas aconteceram em sequência: primeiro a torpeza das pessoas, que segundo alguns jornais, teriam surgido ou se fortalecido depois dos movimentos de insatisfação social em 2013, e que culminou na ascensão de um regime de governo totalitarista (poder de uma doutrina ou ideologia), fomentado por mentiras propagadas em redes sociais, conhecidas como fake news.

Então estar vivo e até se sentir vivo neste momento, significa muito. Eu sempre senti que, quando escrevo, e principalmente quando o texto fica bom, inteligível, estou vivo e energizado. O texto é um bom lugar de reflexão e de exacerbar os sentimentos reprimidos. A pandemia alterou o mundo e a percepção das pessoas sobre o mundo também. Digo isso por mim mesmo: antes eu não me esforçava para ir a todas as festas e confraternizações ao contrário, sempre escolhi muito bem onde eu deveria estar presente, onde eu realmente era esperado e querido, jamais apenas tolerado.

Falar de solidão, assunto de profunda complexidade, exige um conhecimento de si mesmo que acredito ter, mas posso estar enganado. Acho que pela primeira vez eu me sinto sozinho. Não estou dizendo que sou iludido com a ideia de que um casamento seja capaz de acabar com a solidão, ao contrário, além de não acabar ainda pode reforçar a sensação de que o ser humano embora inevitavelmente social está essencialmente só. E também que o amor tem prazo de validade, o que para mim é o mais obvio a se aprender com o casamento.

As vezes me deparo com texto profundos na única rede social que uso atualmente, em prints, por que a quantidade de caracteres das mensagens é limitada. E sempre me chama a atenção a quantidade de gente que se sente sozinha e não é por causa da pandemia do Covid-19. Gente que não conta com o apoio de parentes próximos, que como eu não tem cônjuge, ou que talvez até tenha, mas está em outra sintonia ou tentando tratar a própria solidão.

Como é difícil ser adulto às vezes. Tanta responsabilidade e tantos desejos não atendidos que a mente até entra em conflito de prioridades. E como dizia o enigma da Esfinge Decifra-me ou devoro-te, o importante é decifrar a si mesmo antes que o carrasco interior o consuma, o devore. E é na solitude[2], condição de quem escolhe ficar só, presumindo que no momento a pessoa consiga isso, que vamos encontrar possíveis respostas, se valendo de que nesse momento de reflexão nenhuma tragédia aconteça.



[1] Joel Gomes – Bacharel em Ciências Sociais, acadêmico da Geografia, Pernambucano, Moto-turista, escrevendo para se livrar das suas próprias dores (jotagomes@gmail.com).

[2] https://www.dicio.com.br/solitude/.

terça-feira, 5 de maio de 2020

O que é estoicismo e como aplicá-lo na sua vida?

O Estoicismo é um pensamento filosófico que surgiu na Grécia Antiga, mas é cada vez mais atual. Para ele, você deve se tornar profundamente consciente dos seus pensamentos e emoções para que eles não assumam o controle sobre você. Traremos 4 maneiras de como aplicar o Estocismo na sua vida:

#1 SEPARE AS COISAS QUE VOCÊ TEM CONTROLE DAS QUE VOCÊ NÃO TEM

E foque apenas nas que você pode controlar. Por exemplo: foque  nos seus esforços, e não nos resultados deles, porque o preparo está no nosso controle, mas o resultado dele não. Na prática, você não precisa se preocupar com o resultado de uma entrevista de emprego, porque ele não depende de você. Foque no presente, usando estrtaégias como o mindfulness.
Seu entrevistador pode ter acordado de mau humor, ou pode ter uma pessoa no processo seletivo mais adequada pra vaga que você. Por isso, sua preocupação deve ser anterior ao resultado: no seu preparo técnico. Assim, mesmo que a resposta seja negativa, você não ficará abalado, porque sabe que fez sua parte.

#2 ESTEJA PREPARADO PARA O PIOR CENÁRIO POSSÍVEL

Crises são imprevisíveis, por isso  acabam afetando tanto nossas vidas: quase nunca estamos preparados para elas. Para evitar isso, segundo o estoicismo, é fundamental trabalhar o conceito do “pior cenário possível”. Para isso, além de fazer o exercício mental, uma forma de materializar o “pior cenário possível” é  passar por momentos de sofrimento físico planejado, como se expor ao frio, à fome, comer alimentos mais baratos do que de costume, se vestir de forma simples.
Ao trazer essas práticas na sua vida constantemente, você perceberá que o que mais temia é completamente suportável e entenderá que consegue ser feliz mesmo em momentos de crise com pouco.

#3 ADICIONE SENSO DE URGÊNCIA NA SUA VIDA

Para isso, pense como a morte é inevitável. E pense por bastante tempo. Pelo filosofia estoica, fazer isso constantemente te ajuda a notar que a vida é curta, o que consequentemente traz o senso de urgência necessário para ir atrás das coisas que são importantes para você.
Existe uma outra forma de enxergar a morte: ela deve ser o que te capacita, não o que te deixa triste. Ao alcançar essa nova forma de enxergá-la, é possível tornar a morte a motivação do seu dia a dia para enfim executar o que você tanto procrastinava.

#4 PERCA O MEDO DE SER CRITICADO E TOME RISCOS

Para que você alcance sucesso em sua vida, independente de qual aspecto seja levando em consideração, você terá que se expor, tomar riscos e ter uma grande chance de ser criticado. Um exercício prático e extremo para se condicionar a tomar medidas mais ousadas e se blindar a críticas é se expor propositalmente ao ridículo.
Como? Você pode por exemplo pegar um dia normal em sua vida, se vestir de uma forma engraçada e puxar assunto com pessoas aleatórias na rua. Ao treinar esse tipo de exposição, de acordo com o estoicismo, você estará mais preparado para tomar riscos sem pensar nas críticas que poderá sofrer.

Quer saber mais sobre o Estoicismo?

Esta filosofia foi criada na Grécia Antiga pelo filósofo Zenão de Cítio, no século III a.C. Segundo ele, para se viver uma boa vida, isto é, com paz de espírito e virtude, deve-se entender e aceitar a ordem da natureza. Outros filósofos do estocismo, que continuaram a corrente filosófica, como Sêneca e Epíteto, firmaram o Estoicismo como um sistema com 3 pilates fundamentais: a lógica, a física e a ética. Para eles, “a virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza”.

Fonte: https://www.insiderstore.com.br/blog/o-que-e-estoicismo-e-como-aplica-lo-na-sua-vida/

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Dos ciclos sociais e do final das coisas quando ainda estamos vivos


Abreu e Lima, 30 de novembro de 2014. 14h
Caros amigos incidentais, companheiros de jornada, amigos de todos os lugares, de moto clubes, usuários de veículos de duas rodas, gente diversa e versada em discutir sobre como desfrutar da motocicleta (e de como mantê-la em bom funcionamento), das viagens, dos relacionamentos em grupo, e de nós que driblamos os problemas da vida pilotando e fazendo parte da paisagem, bem vindos à vida.

Relutei muito em começar esse texto, para não deixar que alguma mágoa o estragasse. Eu não queria parecer infantil ou descontrolado ao descrever com amargura os momentos passados de minha experiência. Até por que tudo que me esforço em lembrar são as coisas boas. Gosto de apagar tudo o que me machuca, não exatamente como quando se tem amnésia, mas resolve. E mais uma vez vou falar sobre motocicleta, do seu uso e de sua influência na minha vida.
No princípio, quando começou a minha relação com os motoclubes, eu me comportava apenas como espectador. Fazia tudo o que me era solicitado, cumpria regras, horários, a fim de conquistar um espaço entre eles. E no começo foi um pouco duro ser aceito. Não entendia o funcionamento e não existe uma regra que define se alguém vai ser aceito e, se for, quando. Mais difícil é encontrar um espaço para suas ideias em qualquer lugar, ainda mais difícil num lugar onde tem pessoas não te querem por perto e do qual você sabe muito pouco.
Sempre me disseram que a inocência protege. Nesse caso, logo que descobri que minha presença não era aceita unanimemente, pensei: e se eu não soubesse? Então decidi seguir em frente, pagar para ver, amparado pelo depoimento das pessoas que me queriam ali. Eu não tinha nada a perder, só tinha a ganhar: conhecimento, amizades, experiências diversas, dados de pesquisa para o meu trabalho de conclusão de curso, só para exemplificar com o que lembro agora.
A pior coisa que poderia ter acontecido era eu ter sido convidado a me retirar, já que o meu aguçado instinto de autoproteção não iria permitir que eu tivesse que sair forçadamente. Minha personalidade era o que eu tinha a meu favor, mas é nas características pessoais que os grupos encontram elementos de rejeição e de aproximação. E dentre as minhas características encontra-se uma que incomoda muita gente: a sinceridade. Ela é uma “faca de dois gumes”: com ela você cimenta muitas amizades sinceras, mas também alimenta o mau querer de muitos outros que vivem a fingir vidas perfeitas, e que não gostam de ter suas verdades descobertas.
Não sei se foi a atitude certa, continuar meu caminho sem me importar com as criticas, afinal de contas aceitação é também uma situação efêmera. Mas por um tempo foi muito bom. Até recentemente foi assim. E a vida é mesmo repleta de situações efêmeras. No meu trabalho, por exemplo, durante um tempo fui visto apenas como “mais um”. Alguns me viam como um novo bolsista, outros como um personagem de gibi, por causa do coturno e da jaqueta de couro, que fez parte da minha vestimenta durante uns anos. Mas com o tempo tudo mudou e eu adquiri o respeito da maioria, eu acho.
Situações efêmeras. Todas passaram. Em outros ambientes podemos optar. No meio motociclístico amador fiz muitas amizades. Não posso garantir que seja amado e admirado, mas acho que ao menos o respeito de uns poucos, porém importantes cidadãos devo ter.
Não me considero o mais esperto dos sujeitos, mas sempre que posso tento dividir as coisas que aprendo. E para isso continuo minha saga de observar a vida para aproveita-la melhor. E se eu pudesse deixar um legado a posteridade, seria um manual de boas maneiras. Não desses manuais de etiqueta a mesa ou de como se vestir. Seria mais parecido com um conjunto de observações e opções para você cuidar de si mesmo, evitando maiores conflitos com os seus semelhantes.
Recentemente, tive a experiência de me ser solicitado devolver o brasão. Nos primeiros dias eu não consegui entender muito bem o que estava acontecendo, posto que tivesse dedicado quase quatro anos da minha vida a um clube. Mesmo assim o devolvi, pois entendo que o brasão não é do associado, embora tenha o uso e a posse provisória. Em seguida me senti um pouco “roubado”, por acreditar que o que estava fazendo era uma contribuição para o clube que me ajudou a crescer enquanto usuário de motocicleta. Uma troca. Simbiose.
Nesse momento eu estou considerando apenas o meu ângulo de visão. É claro que existem muitas outras coisas envolvidas. Não estou tentando parecer vitima de nada. As situações mudam, e as suas ações passam a não significar tanto quanto no momento em que você as começou. Não foi culpa de ninguém, a vida segue seu compasso. Mas eu, neste momento de mudança, não estou conseguindo me ver escudado por outro grupo. Estou me sentindo o exercito de um homem só. Dentro da estrutura de clubes, eu diria, por que no resto da existência eu sempre soube que se vem e se vai sozinho.
Para meu consolo imagino que o alerta de alguns, sobre o excesso de motoclubes seja legitimo e eu esteja sofrendo seus efeitos. Em Pernambuco passamos dos quatrocentos e sessenta. E ainda tem gente que me liga e diz:
-Vamos montar um MC?
E eu respondo:
-Para que, se tem tantos?
Estou esperando a “febre de criação de MC” baixar, pois vejo os eventos cada dia mais vazios e perdendo forças para existir. Em um momento, um presidente de motoclube me disse: “se eu não tiver algum apoio, ano que vem eu não farei mais. Não aguento gastar tanto”. Outro grande evento do qual participei esse ano estava vazio nos dois primeiros dias. Nem os expositores contumazes apareceram. Eu quase não encontrei gente conhecida.
Espero não ter detectado um colapso do movimento. Justo agora que algumas associações estão criando forças e que a legislação está se modificando. Que os criadores das políticas publicas de mobilidade estão começando a incluir a motocicleta como parte integrante do transito. Pequenas pesquisas no meio acadêmico começam a parecer, que incluem a motocicleta e os motociclistas não como causadores de mortes, mas como vítimas das péssimas condições de gerenciamento do tráfego.
As prefeituras estão tentando resolver o problema da mobilidade ainda de uma maneira incorreta e que demonstra desconhecimento e inabilidade de se comunicar com os usuários. Mas o problema atinge todo mundo em todas as grandes cidades. Em breve, acredito, um diálogo entre os legisladores e os motociclistas será inevitável. E nesse momento eu espero que os motoclubes estejam mais próximos.
Joel Gomes – acadêmico das ciências sociais, motociclista, motoqueiro, mototurista e ex-motoclubista, escrevendo para se livrar das suas próprias dores, colaborando com o blog Os Sem Fronteiras (jotagomes@gmail.com).

 Eu ainda me lembro...   Não sou escritor e acho que isso não se diz. Não que alguém não possa estudar para ser escritor, porém se você ...