quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Dos ciclos sociais e do final das coisas quando ainda estamos vivos


Abreu e Lima, 30 de novembro de 2014. 14h
Caros amigos incidentais, companheiros de jornada, amigos de todos os lugares, de moto clubes, usuários de veículos de duas rodas, gente diversa e versada em discutir sobre como desfrutar da motocicleta (e de como mantê-la em bom funcionamento), das viagens, dos relacionamentos em grupo, e de nós que driblamos os problemas da vida pilotando e fazendo parte da paisagem, bem vindos à vida.

Relutei muito em começar esse texto, para não deixar que alguma mágoa o estragasse. Eu não queria parecer infantil ou descontrolado ao descrever com amargura os momentos passados de minha experiência. Até por que tudo que me esforço em lembrar são as coisas boas. Gosto de apagar tudo o que me machuca, não exatamente como quando se tem amnésia, mas resolve. E mais uma vez vou falar sobre motocicleta, do seu uso e de sua influência na minha vida.
No princípio, quando começou a minha relação com os motoclubes, eu me comportava apenas como espectador. Fazia tudo o que me era solicitado, cumpria regras, horários, a fim de conquistar um espaço entre eles. E no começo foi um pouco duro ser aceito. Não entendia o funcionamento e não existe uma regra que define se alguém vai ser aceito e, se for, quando. Mais difícil é encontrar um espaço para suas ideias em qualquer lugar, ainda mais difícil num lugar onde tem pessoas não te querem por perto e do qual você sabe muito pouco.
Sempre me disseram que a inocência protege. Nesse caso, logo que descobri que minha presença não era aceita unanimemente, pensei: e se eu não soubesse? Então decidi seguir em frente, pagar para ver, amparado pelo depoimento das pessoas que me queriam ali. Eu não tinha nada a perder, só tinha a ganhar: conhecimento, amizades, experiências diversas, dados de pesquisa para o meu trabalho de conclusão de curso, só para exemplificar com o que lembro agora.
A pior coisa que poderia ter acontecido era eu ter sido convidado a me retirar, já que o meu aguçado instinto de autoproteção não iria permitir que eu tivesse que sair forçadamente. Minha personalidade era o que eu tinha a meu favor, mas é nas características pessoais que os grupos encontram elementos de rejeição e de aproximação. E dentre as minhas características encontra-se uma que incomoda muita gente: a sinceridade. Ela é uma “faca de dois gumes”: com ela você cimenta muitas amizades sinceras, mas também alimenta o mau querer de muitos outros que vivem a fingir vidas perfeitas, e que não gostam de ter suas verdades descobertas.
Não sei se foi a atitude certa, continuar meu caminho sem me importar com as criticas, afinal de contas aceitação é também uma situação efêmera. Mas por um tempo foi muito bom. Até recentemente foi assim. E a vida é mesmo repleta de situações efêmeras. No meu trabalho, por exemplo, durante um tempo fui visto apenas como “mais um”. Alguns me viam como um novo bolsista, outros como um personagem de gibi, por causa do coturno e da jaqueta de couro, que fez parte da minha vestimenta durante uns anos. Mas com o tempo tudo mudou e eu adquiri o respeito da maioria, eu acho.
Situações efêmeras. Todas passaram. Em outros ambientes podemos optar. No meio motociclístico amador fiz muitas amizades. Não posso garantir que seja amado e admirado, mas acho que ao menos o respeito de uns poucos, porém importantes cidadãos devo ter.
Não me considero o mais esperto dos sujeitos, mas sempre que posso tento dividir as coisas que aprendo. E para isso continuo minha saga de observar a vida para aproveita-la melhor. E se eu pudesse deixar um legado a posteridade, seria um manual de boas maneiras. Não desses manuais de etiqueta a mesa ou de como se vestir. Seria mais parecido com um conjunto de observações e opções para você cuidar de si mesmo, evitando maiores conflitos com os seus semelhantes.
Recentemente, tive a experiência de me ser solicitado devolver o brasão. Nos primeiros dias eu não consegui entender muito bem o que estava acontecendo, posto que tivesse dedicado quase quatro anos da minha vida a um clube. Mesmo assim o devolvi, pois entendo que o brasão não é do associado, embora tenha o uso e a posse provisória. Em seguida me senti um pouco “roubado”, por acreditar que o que estava fazendo era uma contribuição para o clube que me ajudou a crescer enquanto usuário de motocicleta. Uma troca. Simbiose.
Nesse momento eu estou considerando apenas o meu ângulo de visão. É claro que existem muitas outras coisas envolvidas. Não estou tentando parecer vitima de nada. As situações mudam, e as suas ações passam a não significar tanto quanto no momento em que você as começou. Não foi culpa de ninguém, a vida segue seu compasso. Mas eu, neste momento de mudança, não estou conseguindo me ver escudado por outro grupo. Estou me sentindo o exercito de um homem só. Dentro da estrutura de clubes, eu diria, por que no resto da existência eu sempre soube que se vem e se vai sozinho.
Para meu consolo imagino que o alerta de alguns, sobre o excesso de motoclubes seja legitimo e eu esteja sofrendo seus efeitos. Em Pernambuco passamos dos quatrocentos e sessenta. E ainda tem gente que me liga e diz:
-Vamos montar um MC?
E eu respondo:
-Para que, se tem tantos?
Estou esperando a “febre de criação de MC” baixar, pois vejo os eventos cada dia mais vazios e perdendo forças para existir. Em um momento, um presidente de motoclube me disse: “se eu não tiver algum apoio, ano que vem eu não farei mais. Não aguento gastar tanto”. Outro grande evento do qual participei esse ano estava vazio nos dois primeiros dias. Nem os expositores contumazes apareceram. Eu quase não encontrei gente conhecida.
Espero não ter detectado um colapso do movimento. Justo agora que algumas associações estão criando forças e que a legislação está se modificando. Que os criadores das políticas publicas de mobilidade estão começando a incluir a motocicleta como parte integrante do transito. Pequenas pesquisas no meio acadêmico começam a parecer, que incluem a motocicleta e os motociclistas não como causadores de mortes, mas como vítimas das péssimas condições de gerenciamento do tráfego.
As prefeituras estão tentando resolver o problema da mobilidade ainda de uma maneira incorreta e que demonstra desconhecimento e inabilidade de se comunicar com os usuários. Mas o problema atinge todo mundo em todas as grandes cidades. Em breve, acredito, um diálogo entre os legisladores e os motociclistas será inevitável. E nesse momento eu espero que os motoclubes estejam mais próximos.
Joel Gomes – acadêmico das ciências sociais, motociclista, motoqueiro, mototurista e ex-motoclubista, escrevendo para se livrar das suas próprias dores, colaborando com o blog Os Sem Fronteiras (jotagomes@gmail.com).

domingo, 16 de junho de 2019

Opinião: ‘Respeite a moto, motociclista!’

Em maio são realizadas ações de conscientização para um trânsito mais seguro do Maio Amarelo. Entre elas, vi uma faixa que dizia ‘Motorista, respeite o motociclista. Em cima de uma moto tem um pai de família ou alguém como você’. A faixa está certa. 

 Mas sabemos bem que nas motos, assim como nos carros, caminhões, ônibus, bicicletas, patinetes e até a pé existem pessoas que fazem tudo corretamente e tem pessoas que não. Simples assim e a gente precisa entender e saber lidar com essa realidade. Não dá para colocar só um grupo como vilão, mas na maioria dos casos, o motociclista fica com nesse papel nas notícias.

Nessa faixa que vi, o motorista era o alvo. Sim, muitos motoristas erram no trânsito, a maioria por puro despreparo na sua formação como condutor – o que vou falar em outro momento – e por estar distraído tentando fugir dos seus problemas ouvindo rádio alto ou usando o telefone enquanto dirige e devia estar focando na via. 
 
A campanha é válida, claro, pois precisamos de pelo menos alguém dizendo que na moto precisamos ser respeitados, mas tem muito, mas muito motociclista que erra no uso da moto e prejudica uma grande maioria que usa corretamente. Seja excedendo a velocidade da via, algumas vezes de forma absurda, principalmente em rodovias, seja desrespeitando todas as leis de trânsito possíveis.

As motos não estão acima da lei e já vi atos onde o motociclista merecia até ser preso, tamanha a negligência na pilotagem. Por isso tudo, motociclista, respeite a moto. Não vou aceitar esse discurso de motociclista e motoqueiro: se você está na moto, para quem não anda, você agindo certo ou errado é uma coisa só para quem foi afetado pelo seu ato.

Já vi na estrada grupos em motos grandes que fechavam mais de uma faixa da estrada, sem necessidade, e geravam longo trânsito atrás deles. Acha que essas pessoas afetadas pela lentidão gostaram das motos ali? Claro que não!
Temos que tomar cuidado com nossos atos na moto, para tentar mudar essa imagem negativa que muitos na sociedade tem. Isso é resultado dos erros de alguns, apenas alguns, que prejudicam a imagem da moto, a vida de muita gente, às vezes, até a própria… Respeite a moto!

Fonte: https://motordomundo.wordpress.com/2019/06/14/respeite-moto-motociclista/

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

EM CASO DE DUVIDAS - (ainda em construção)


Lembro-me das minhas primeiras aulas de Ciências Sociais, ainda no começo de 2009, onde um dos professores disse algumas vezes ao encerrar a aula, que estava ali para deixar mais dúvidas que certezas, mais perguntas que respostas. É disso que se trata esse texto.
Isso vai de encontro ao que uma parte dos estudantes de ciências filosóficas pensa ao começar o curso. Tendemos a querer resolver algum problema. No meu caso, eu queria resolver um problema sociológico. Acho que ainda quero.
Durante o curso tive a oportunidade de cursar disciplinas que tempos depois saíram da grade. Mas dentre elas, uma ao menos foi imprescindível para que eu conseguisse distinguir meus desejos pessoais do alcance da ciência, em nível de graduação.
Uma delas, Etinecologia, como o próprio nome sugere, talvez tenha sido a mais interdisciplinar, a que mais me fez ver a Sociologia por outro viés. A discussão sempre teve a maior abrangência possível, referências diretas a temas tratados pelas ciências exatas. Alguns temas me perturbaram e ainda perturbam.
(...)
Quando conclui o curso fiquei um pouco frustrado com o meio acadêmico. Fico o tempo todo pensando que devo não ter muita aptidão científica ou acadêmica. Tentei fazer um trabalho totalmente autoral e inédito e não consegui. Precisei recomeçar o texto, mudando o tema e retomando leituras anteriores.
É possível que muitas outras coisas tenham contribuído para o meu desestimulo acadêmico se assim posso denominar. O fato de que meus colegas de classe terminaram e se afastaram me foi citado por um professor na época em que eu tentava com muito esforço escrever meu trabalho de conclusão de curso.

 Eu ainda me lembro...   Não sou escritor e acho que isso não se diz. Não que alguém não possa estudar para ser escritor, porém se você ...