Eu ainda me lembro...
Não
sou escritor e acho que isso não se diz. Não que alguém não possa estudar para
ser escritor, porém se você não tem formação nas letras em alguma área, são as
outras pessoas quem devem falar, depois de ler o que você escreve, se é ou não
literatura. E isso sempre me impediu de escrever. Mas eu acredito que mesmo não
desejando ser um best seller, nem mesmo tendo intensão de
publicar, todas as pessoas que tivessem vontade deveriam ter condições de
escrever sua própria história ou suas próprias estórias. É um clichê, que seja.
É um problema da classe média, talvez. O fato de estar hoje situado entre
pessoas com uma renda média, eu não tenho certeza se ainda existe classe média,
minha origem é da classe baixa, das famílias que não ganhavam nem mesmo um salário
mínimo. A memória das coisas sempre me incomodou. Eu sempre tive muita
facilidade para lembrar das coisas ruins da minha vida e isso me incomodou por
muito tempo. Li em algum lugar que existem pessoas que são pessimistas
mnêmicos, capazes de lembrar com mais clareza apenas os momentos difíceis. Eu
me considerava assim e mesmo mantendo um blog desde os anos 2000 eu não achava
que era possível escrever com clareza. Talvez eu não consiga. Eu só estou começando.
Os começos são sempre difíceis. Vou expressar aqui as minhas lembranças e
talvez até imprima para deixar depois da minha morte. Ou talvez não consiga
mostrar a ninguém. Ainda não decidi. Para fazer um bom texto é preciso mais do
que o desejo de escrever: conhecimento de literatura e da gramatica como base,
criatividade e sinceridade podem contribuir também. De fato, para quem não tem
pretensão nenhuma de publicar ou vender, posto que o assunto divulgado é apenas
o cotidiano de um homem pardo, pobre e que melhorou a ponto de comprar um computador
compacto. Não tem nada de novo, nada que nenhum outro Machado de Assis tivesse
interesse em escrever. Não há nada de inédito. Não é uma comédia de costumes.
Não é teatro. Não é um enredo de filme. Não tem uma grande distinção de
personagens. Era só para contar uma história. Minha história. É um experimento.
Uma descoberta. Para quem sempre gostou de escrever, mas que não tem formação
em letras é um desafio. Vou tentar escrever as minhas memorias antes que eu a
esqueça. Vou escrever como um exercício, uma tarefa que costumava faze depois
de uma viajem. Por um tempo eu sintetizei os momentos que passei nas viagens de
motocicleta pelo Nordeste, de onde aliás nunca sai. Era um exercício de
memorização e uma maneira de deixar o meu blog funcionando. E por algum tempo
eu consegui.